Existe diferença entre os sexos quando falamos de esquizofrenia e doenças cardiovasculares?

Por Dr. Breno Guedes de Melo –

Em um mundo onde a saúde mental e física são frequentemente tratadas separadamente, uma nova pesquisa lançou luz sobre as interseções complexas entre a esquizofrenia e as doenças cardiovasculares. O estudo intitulado “Sex Differences in the Relationship Between Schizophrenia and the Development of Cardiovascular Disease” mergulha nas diferenças de sexo relacionadas ao risco cardiovascular em pacientes com esquizofrenia.

A esquizofrenia é um transtorno mental debilitante que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Ao mesmo tempo, as doenças cardiovasculares representam uma das principais causas de morbimortalidade. Em adição a isso, é importante notar que essas duas áreas da saúde podem estar mais intimamente ligadas do que se pensava anteriormente.

Uma das descobertas mais intrigantes deste estudo é que as mulheres com esquizofrenia têm um risco relativo maior de desenvolver doenças cardiovasculares em comparação com os homens com a mesma condição, encontrando diferenças estatisticamente significativas em angina, insuficiência cardíaca e fibrilação atrial. Isso lança uma nova luz sobre como a esquizofrenia afeta os sexos de maneiras diferentes, o que impacta diretamente no tratamento de manutenção e medidas de suporte clínico desses pacientes.

Essas descobertas têm implicações significativas no cuidado ao paciente portador de transtorno mental. Torna-se necessária uma abordagem multidisciplinar integrada ao tratamento de pacientes com esquizofrenia, que leve em consideração não apenas sua saúde mental, mas também sua saúde física. Isso pode incluir intervenções precoces para reduzir os fatores de risco cardiovascular e estratégias de estilo de vida, como alimentação saudável e atividade física regular.

Uma questão que surge dessas descobertas é: por que as mulheres com esquizofrenia têm um risco cardiovascular aumentado em relação aos homens com a mesma condição? Os pesquisadores especulam que fatores hormonais, diferenças metabólicas e até mesmo diferenças na resposta ao estresse podem desempenhar um papel. Além disso, entende-se que a atividade física é de extrema importância no que tange a prevenção de doenças cardiovasculares. Estudos anteriores citados no artigo trazem a informação de que pacientes com esquizofrenia tendem a ser mais sedentários, principalmente as mulheres. O que corrobora a diferença. No entanto, mais pesquisas são necessárias para entender completamente esses mecanismos subjacentes.

Embora essas descobertas abram novas portas para o tratamento e a prevenção de doenças cardiovasculares em pacientes com esquizofrenia, também destacam os desafios que enfrentamos. A falta de conscientização sobre essa conexão e a falta de acesso a cuidados de saúde são apenas alguns dos obstáculos que precisamos superar. No entanto, à medida que continuamos a avançar em nossa compreensão dessa interconexão, também surgem oportunidades para melhorar os resultados para estes indivíduos.

Em um mundo onde a saúde é frequentemente tratada de forma fragmentada, este estudo destaca a importância de uma abordagem integral. Ao reconhecer e abordar as interseções entre a esquizofrenia e as doenças cardiovasculares, podemos oferecer um cuidado mais abrangente e eficaz aos pacientes.

É necessária a realização de estudos que foquem em etiologia e etiopatogenia dessa intersecção, levando em consideração as diversas diferenças entre os indivíduos, como o sexo. À medida que mais pesquisadores se aprofundam nessa área, esperamos aprender mais sobre os mecanismos subjacentes a essa conexão e, mais importante ainda, como podemos traduzir esses conhecimentos em melhor qualidade de vida e prognóstico.

Referência

KOMORO, J. et. al. Sex Differences in the Relationship Between Schizophrenia and the Development of Cardiovascular Disease. Journal of the American Heart Association Cardiovascular and Cerebrovascular Disease. Estados Unidos, 2024.

Sobre o autor: Médico formado pela UFPB. Médico Psiquiatra formado pela UFPB.

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