Por Dra. Rhayzza Santos –
Em entrevista para o Fantástico, a atriz Letícia Sabatella, de 52 anos, contou que foi diagnosticada com Autismo. Ela revelou que descobrir o diagnóstico trouxe alívio e que sempre percebeu certas características como hipersensibilidade ao som e toque. “O diagnóstico traz alívio para quem passa a vida se achando diferente e incompreendida”, disse a atriz.
Nos últimos anos, com a facilidade de disseminação de informações, pôde-se perceber o aumento na busca do diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista por pessoas adultas. O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, suas características estiveram presentes desde a infância, mesmo que a pessoa só venha a receber o diagnóstico na fase adulta. No TEA as pessoas têm a comunicação, a interação social e comportamentos afetados, podendo abranger em sintomas, gravidade e níveis de suporte necessário.
Podemos atribuir essa gradação na procura à maior divulgação acerca do transtorno. A forma mais fácil de se obter conhecimentos hoje é através dos meios digitais, como vídeos no Instagram ou Tiktok, textos em sites e blogs e conteúdos no Youtube de médicos especialistas e até mesmo de outras pessoas do espectro que dividem suas rotinas com os expectadores de seus canais.
Esses conteúdos vão de listas de sinais e sintomas como estereotipias, hiperfocos, sensibilidade sensorial, dificuldade de fazer contato visual, flapping (balançar as mãos), masking ( mascarar sintomas e comportamentos) até posts sobre o dia a dia na escola ou faculdade, o uso de fones de ouvido para melhor adaptação à sensibilidade auditiva, uso do cordão de identificação, inabilidade para compreender figuras de linguagem como sarcasmo ou ironia, e outros.
Atualmente, diversos profissionais de saúde mental têm recebido pessoas adultas que buscam descobrir se suas particularidades podem ou não ser parte do espectro autista. São pessoas que cresceram com suas características e dificuldades, mas antes não puderam ter suporte, seja por falta de conhecimento dos familiares, pelo tabu presente na sociedade em relação à saúde mental e até mesmo por que apesar dos sofrimentos, até certo ponto, conseguiram acompanhar os pares.
Como a palavra espectro significa justamente que um transtorno pode ter diversos sinais e sintomas, com graus diferentes de comprometimento, estereotipias diferentes, hiporfocos distintos, sensibilidades à estímulos opostos entre outras particularidades, então de fato não é possível ter um padrão oficial, mas todas terão –transtornos – acerca da comunicação, interação social e comportamentos.
O fenômeno que observo é que justamente quando a sociedade enfim tem acesso a referências de pessoas autistas ou a informações sobre o TEA, algumas podem se identificar e assim buscar finalmente um diagnóstico ou outras podem identificar características em pessoas do convívio e ajuda-las a buscar suporte de um profissional. Quando não se tinha acesso à tais conhecimentos, muitas pessoas autistas acabavam por passar a vida sendo consideradas apenas pessoas “difíceis”, “desajustadas” ou até mesmo “esquisitas”, e agora, tal compreensão pode furar a bolha acadêmica e ajudar muitas pessoas.
Apesar de não raramente acontecer de após uma pessoa ler algumas características e ter uma alta identificação com comportamentos que em tese definiriam um transtorno, devo realçar que não é possível fazer um diagnóstico em saúde mental dessa forma, sendo necessário a busca por um profissional de saúde como um psicólogo ou psiquiatra, que após analisar detalhadamente a sua história de desenvolvimento biopsicossocial, vai conseguir identificar e realizar o seu diagnóstico.
Sobre a Autora: Rhayzza Santos é formada em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba, faz graduação de Medicina e sempre lê os fenômenos da vida pelas lentes da psiquê, vendo beleza e peculiaridade.
Uma resposta
Excelente abordagem, e realmente é importante valorizar e tentar identificar tais sinais e sintomas para melhor ajudar os pacientes!