Fonte: Isabella Holouka.
Segundo o senso comum, as pessoas que não gostam da própria profissão, dos colegas ou do ambiente de trabalho em que estão inseridos têm maior tendência ao adoecimento mental. Mas, na realidade, aqueles que gostam demais do trabalho que desempenham têm maior propensão a investir energia, buscar metas irreais, sofrer estresse e desenvolver a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional.
O alerta é do psicólogo Eduardo Bueno de Faria, que é pós-graduando em neuropsicologia, mestrando em avaliação psicológica, mora em Sumaré e atende remotamente. Ele defende mais conscientização sobre a seriedade dos sintomas de Burnout, já que, se agravados, eles podem levar ao desenvolvimento de doenças como ansiedade ou depressão.
A síndrome, que foi nomeada em 2020, sempre existiu, mas ganha popularidade conforme as relações de trabalho parecem cada vez mais insalubres. Segundo o profissional, três sintomas são apontados na literatura científica e diferenciam o Burnout: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal.
“A exaustão emocional tem muito a ver com o cansaço constante, falta de motivação, desinteresse e indiferença por atividades que antigamente eram muito prazerosas para o indivíduo. Depois, vem a despersonalização, que muitas vezes tem a ver com um cinismo, sentimentos de negatividade quanto ao ambiente e muitas vezes até uma hostilidade com os colegas de trabalho e nas relações em geral”, descreve.
“Por fim, a baixa realização pessoal acontece quando a pessoa sente a autoestima e a autoconfiança prejudicadas. É aquela sensação de que não está fazendo a diferença, de que não faz mais sentido estar naquele ambiente. Alguns autores apontam o Burnout como um prólogo, algo que tende a acontecer antes de a pessoa desenvolver uma doença propriamente dita”, explica.
Embora os sintomas estejam relacionados à vida laboral, Eduardo aponta a repercussão do sofrimento na vida pessoal, afetando especialmente nos relacionamentos. Afinal, quem sofre da síndrome normalmente têm dificuldade em deixar os assuntos relacionados ao trabalho restritos aos ambientes profissionais. Também existem sintomas físicos, como insônia, dores de cabeça, crises de choro, problemas gastrointestinais, dificuldade de concentração e irritabilidade.
Mesmo em esgotamento profissional, nem sempre é possível mudar de emprego, de empresa ou de área de atuação. Nestes casos, quando o risco de adoecimento é real e prolongado, o acompanhamento psicológico e, muitas vezes, psiquiátrico, se torna ainda mais importante. Mas outros cuidados podem ajudar o trabalhador a lidar com a situação.
“O problema está nas altas cargas de trabalho, nas metas irrealistas, na falta de controle sobre as responsabilidades, no ambiente tóxico e desfavorável e na falta de apoio dos colegas. É muito importante que o gestor tenha a visão do quanto isso afeta negativamente a empresa. Um trabalhador com os sintomas de Burnout impacta negativamente a organização e o clima organizacional em geral começa a ficar negativo”, diz Eduardo.
Promover a saúde através de palestras e treinamentos, colocar psicólogos e especialistas em saúde mental à disposição e tentar manter um ambiente de trabalho positivo, com boa divisão de tarefas, sem conflitos e metas irrealistas é responsabilidade dos gestores.
No campo pessoal, há fatores secundários como a manutenção de uma rotina de atividades físicas e boa alimentação, que contribuem para o controle da saúde mental. “O exercício acaba sendo uma maneira de extravasar e um hobby, para quem escolhe a corrida ou a musculação, por exemplo. Também reforça habilidades socioemocionais, autoestima, autoconfiança, disciplina”, sugere.