Poucas horas de sono, ausência de exercícios físicos e alimentação desequilibrada são comuns na rotina de estudantes que se preparam para concursos públicos. A dedicação excessiva, no entanto, pode resultar em sérios prejuízos para a saúde, principalmente a mental.
Após nove anos empregada, a professora Karina Rocha pediu demissão e se dedicou à preparação para concursos. O tempo da candidata era dividido entre os estudos e o trabalho de motorista de aplicativo. Pouco antes da data prova, ela também precisou cuidar do pai, diagnosticado com câncer.
— No dia anterior da prova, senti falta de ar e não consegui dormir. Na hora da avaliação, eu não entendi as questões, a minha mão suava. Tudo ficou branco. Como senti pânico, precisei sair da sala várias vezes — conta.
Ao invés de conseguir a vaga, Karina recebeu um alerta médico de que estava no início de um quadro depressivo. A candidata, então, começou um tratamento com medicamentos e incluiu hábitos saudáveis em sua rotina, como meditar e praticar exercícios físicos.
Muitos estudantes têm dificuldade de abandonar maus hábitos de estudo devido às suas condições financeiras. Por trabalhar e fazer faculdade, o biólogo Daniel Oliveira estudava antes de dormir, durante a madrugada, e no trajeto de ônibus. Ele foi diagnosticado com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).
— Nem era o trabalho que estava me cansando, mas era o fato de estar estudando sem ver retorno — explica.
De acordo com Rafael Vieira, coordenador da área de Psicologia do Gran Concursos, há o risco de os candidatos entrarem em um ciclo de frustração após terem um desempenho abaixo do esperado:
— O estudante começa a se cobrar que não estudou o suficiente depois de não passar numa prova. Se estudava oito horas, passa a estudar dez. E o erro geralmente não é o fato de ter estudado pouco, mas o de ter levado o corpo ao limite.
A neuropsicóloga Lícia Assbu recomenda a adaptação de hábitos saudáveis.
— Muitas vezes a pessoa tem que estudar junto com o trabalho. A orientação é que adaptem as atividades à sua realidade. Se possível, descasque mais e desembale menos na hora de cozinhar — orienta a especialista.
Sinais na saúde
- Pensamentos obsessivos
Embora seja importante se dedicar aos estudos, um sinal de alerta é quando a única fonte de satisfação do candidato se torna o concurso. Além da saúde, a sobrecarga prejudica a capacidade de concentração, a retenção do conhecimento e o desempenho na avaliação. A fadiga mental pode ser acompanhada com sintomas que vão desde dores de cabeça até frustração.
- Procrastinação
A sensação de não estar progredindo adequadamente e a dificuldade de manter um cronograma de estudos podem fazer com que a pessoa se sinta sem energia. A procrastinação também está associada ao aumento da ansiedade e do estresse, num ciclo: quanto mais se deixa para depois as tarefas, maior a sensação de pressão e desmotivação.
- Mudanças de humor
A falta de organização e o acúmulo de tarefas podem gerar níveis elevados de estresse. Essa condição afeta o sistema imunológico, deixando o estudante mais vulnerável a resfriados frequentes, dor de cabeça e problemas digestivos. A instabilidade emocional fica evidente pela impaciência desproporcional com parentes e amigos, além do isolamento.
- Distúrbio do sono
Revisar material de madrugada e estudar longas horas sem descanso podem desregular o ciclo de sono. Candidatos com esses hábitos enfrentam insônia e sono de má qualidade. A dificuldade para adormecer acontece devido às preocupações com os conteúdos que ainda não foram estudados. Além da saúde, a falta de descanso compromete a concentração e a memória.
- Ansiedade
Além da mente, outras partes do corpo podem apresentar reações a sobrecarga na preparação para concursos. Os candidatos podem sentir dores musculares e até gastrointestinais. Em situações mais intensas, a ansiedade pode desencadear taquicardia, respiração ofegante e crises de pânico, o que prejudica a concentração e torna o processo de estudos menos eficaz.
- Baixa autoestima
As notas baixas e o sentimento de estar sempre atrasado com os estudos podem gerar baixa autoestima no estudante. O excesso de autocrítica e de insuficiência causam ansiedade, o que atrapalha o processo de recuperação emocional e de preparação para os concursos públicos. Em casos extremos, o aumento do sentimento de incapacidade pode evoluir para um quadro de depressão. Por isso, fique atento aos sinais.